O Deus Tri-Envenenado do Nosso Mundo

Um texto de Anthony Esolen.

Já escrevi antes sobre o deus tri-envenenado do nosso mundo: Ego, Sexo e Estado. Estes venenos dançam em uma bela "perichoresis" (interpenetração) de corroboração mútua. É difícil dizer qual dos três é pai ou filho ou espírito procedente de ambos. Se você olhar para seu tamanho gigantesco, você pode pensar que o primeiro procriador foi o Estado. Se você olhar para o buraco podre do mal onde um bom coração deveria estar, você pode pensar que foi o Ego. Se você olhar para procriação em si e uma abordagem errada para criar ordem, você pode pensar que foi o Sexo.

Sejamos tão sábios quanto as serpentes aqui, consideremos cada possibilidade. Suponhamos que o principal demônio é o Estado. Imagine-o na pessoa do Belzebu de Milton, no conselho de Pandemônio. Ele está prestes a recomendar não uma guerra aberta, como aconselha Moloch, ou esconder-se, como aconselha Belial, mas um movimento lateral contra o novo mundo criado e o homem ali colocado:

Com grave aspecto ele levantou, e em sua ascensão parecia um Pilar do Estado; 

Ao fundo de sua Fronte gravadas sessão de deliberação e atendimento ao público;

E o conselho principado em seu rosto ainda brilhava,

Majestoso embora em ruína.

Você deseja aumentar seu poder, fazer crescer o Estado às custas daqueles que você governa. Como fazer isso? O plano de Satanás, colocado na boca de Belzebu, é separar as novas criaturas de Deus, a fonte de sua liberdade e de sua força. Isso deve inevitavelmente separá-las da virtude, tanto natural quanto sobrenatural.

Para realizá-lo, Satanás apela para o senso de Ego de Eva, mas em estranho isolamento, como se ela fosse uma espécie de Deusa/Iha a quem toda criatura deve se curvar em homenagem. "Senhora soberana", ele a lisonjeia, implorando-lhe perdão por ousar dirigir-se a ela, enquanto sugere que sua beleza não pode ser corretamente valorizada por nenhuma das criaturas entre as quais ela vive, nem mesmo seu amoroso marido Adão, portador da imagem de Deus:

Um homem, exceto, quem te vê? (e o que é um?) Quem deve ser visto.

Uma Deusa entre Deuses, adorada e servida

Por anjos sem fim, seu cortejo diário.

Dividir e conquistar: assim Satanás estende seu reino, por cada pomposo mesquinho auto-proclamado rei e rainha, governado por seu próprio Ego e, portanto, escravo de seu próprio Ego.

Tal escravidão no humanidade se manifesta mais claramente, sugere o livro do Gênesis, no sexo: no que deveria ter unido o homem e a mulher um ao outro, e cada geração àquelas que vieram antes e àquelas que virão depois. "Sede fecundos e multiplicai-vos", diz Deus quando abençoa o primeiro casal humano, mas a queda transforma o que deveria ter sido pura bênção em fonte de problemas, divisão, traição e violência.

O rei mais sábio que já viveu não resistiu à tentação, pois Salomão, diz Milton, "enganado por lindas idólatras, caiu / Aos ídolos malignos". Mil esposas ele teve, mas seus filhos enfrentariam uns aos outros e dividiriam seu reino. Seu reino - não o de Satanás.

Mas poderíamos começar com o sexo dos ídolos. Nós o retiramos de sua ordem natural, e fazemos nossos filhos e nossos vizinhos arcarem com o custo do caos que se segue. Amor não é Amor, apesar do que diz o cartaz presunçoso e tolo nas premissas de seu vizinho. "Espíritos quando querem", diz Milton, descrevendo os deuses da fertilidade dos fenícios, "podem qualquer sexo assumir, ou ambos", para "executar seus propósitos fugazes,/ e obras de atração ou inimizade cumprir".

"Tal amor é ódio", diz o poeta Spenser. O pecado sexual faz o seu pior para impedir que as crianças cresçam com uma mãe e um pai unidos por terem arruinado seu elo para toda a vida. Como o homem é por natureza uma criatura social, quando ele peca contra o que o une no casamento e o que une as gerações, ele peca contra a sociedade.

Ele a chama de liberdade quando é mera irreflexão e adoração ao Ego. Ele aflinge ou tende a destruir completamente a liberdade de seus vizinhos, porque o que famílias fortes e auto-sustentáveis não fazem mais, o Estado deve tentar. Todo pecado anti-social deve dar ao Estado licença para se intrometer onde não pertence, para prover uma aparência dessa ordem enquanto as famílias e as paróquias, escolas e cidades que elas constroem costumavam prover. Aquele que vende cadeiras de rodas tem prazer em encontrar aleijados.

No final, diz C. S. Lewis, existem apenas dois tipos de pessoas: aqueles que dizem a Deus: "Seja feita a Tua vontade", e aqueles a quem Deus diz: "Seja feita a Tua vontade". No buraco morto de cada pecado, há um Eu falso, um invólucro, um fantasma, um ídolo. "Eu sou o que sou", diz Deus, revelando a Moisés seu nome além de todos os nomes circunscritivos. (Ex. 3:16)

Mas eu sou uma criatura: Sou circunscrito. Eu derivo meu ser de Deus, e em cada momento minha existência é sustentada apenas por sua vontade. Quando me coloco contra Deus, eu me volto para o não-ser, para o vazio(hollow) que é bem sugerido pela palavra germânica Inferno(hell).

Mas ao cair, eu afirmo minha falsa independência com todo o desespero. Devo ser eu mesmo, existir por minha conta. Os pólos magnéticos que me atraem são dois. Se sou macio e terno, recorro ao Sexo como a expressão mais ousada do Ego: sexo, como eu quero, quando e com quem eu quero.

Hoje em dia, engolido pelo idiotismo, posso até moldar minha própria "identidade", transformando o sexo em auto-abuso de qualquer um de mil tipos. Se eu for duro e impiedoso, recorro ao Estado e seus acervos. Eu adoro o poder, a riqueza e o prestígio próprios, ou me curvo ao Estado como a extensão ou a realização da pura vontade. O Estado nos salvará, o Estado deve ser nossa cura. Dificilmente importa, então, em que forma o Estado aparece.

Não é uma trindade, com clara certeza, mas é uma tríade. Encontre uma, e as outras duas não estarão muito longe.